quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Some unholy war


Lendo a Veja dessa semana, que traz na capa o assunto "Vingança", me deparei, logo na primeira frase da reportagem, com aquela que seria a "forma mais antiga e, para muitos, a mais bela conclamação ao perdão jamais colocada em pedra, papiro, papel ou tela". São palavras do poeta grego Ésquilo, escritas há 25 séculos.

"Enquanto dormimos
a dor que não se dissipa
cai gota a gota sobre nosso coração
até que, em meio ao nosso desespero
e contra nossa vontade
apenas pela graça divina
vem a sabedoria"

Não, para aí e lê de novo. Vale a pena!

..........................................

Gostei muito dessa definição. (Engenheiros em geral adoram uma "definição").
No caso, esses versos trouxeram à tona em mim uma reflexão.

As pessoas - pelo menos as não muito tapadas - conseguem, mesmo que neguem, enxergar os próprios defeitos. Muitas vezes, tentam até polir estas características, tirar o pó, e colocá-las na estante com um nome mais bonito, ou pomposo, como "peculiaridade" ou até "qualidade" (neste caso já não sei se estamos falando das pessoas menos tapadas...). Mas os defeitos seguem lá, ocupando lugar cativo. Se forem trabalhados, dizem, podem desaparecer, ou se metamorfosear em algo bom (tenho lá minhas dúvidas de que isto é possível). Porém, outras vezes, aquele defeito que se pensa superado, pode, em momento de fraqueza, pregar uma peça e não mais que de repente dar as caras e nos deixar com as calças na mão. Não há nada mais frustrante do que dar uma batalha por vencida, mas num desses lances da vida, ver no nosso calcanhar o inimigo novamente.

Pois bem, eis que nos últimos tempos, com a mudança e tal, me deparo com com todo tipo de gente. E em várias ocasiões sou levada ao confronto com meus próprios defeitos - às vezes tento negá-los para evitar me parecer com esta ou aquela pessoa. Uma reação natural de defesa, talvez.

Existe um defeito que, sorrateiro, quando me pega acaba por me destruir um pouco mais, e me leva para o meu lado mais sombrio. Que chega tão depressa que não me dá a chance de disfarçá-lo, nem de escondê-lo debaixo do tapete. Sempre penso que a cada nova situação em que me vejo às voltas com ele, consigo aprender a domá-lo, e que na próxima terei uma atitude diferente.

Bobagem!

É só me distrair alguns tempos, e, quando estou bem bela e faceira, tomando meu sorvete, assistindo a um filme no cinema, ele aparece dentro de qualquer coisinha pretensamente tola, e já me arrasa mais uma vez, me faz perder o sono. Me envelhece.

Não falo de perfeccionismo - o aspirante a defeito clássico das entrevistas de emprego;
Não falo de falsidade;
Não falo de egoísmo - ou talvez até o seja por outra ótica;

Eu falo, meus amigos, é de dificuldade de perdoar. Nunca disse isso em entrevista de emprego nenhuma, mas acho que é, de longe, o pior que existe dentro de mim. E não falo, meus caros, de rancor, nem de mágoa.

É até engraçado o que acontece.

Alguém faz alguma coisa que considero ofensivo contra mim.
Eu me calo, me fecho, desapareço.
Ou brigo, choro e esperneio, dependendo da situação.

Mas, não me venha com pedido de desculpas!

O que acho difícil de entender, é porque pedir desculpas por algo que se poderia evitar.
É diferente de um encontrão, um pisão no pé.
Não consigo compreender a lógica por trás de fazer alguma coisa contra alguém, e depois se desculpar. Pior, achar que está tudo bem depois de um "me desculpe"!

Aí vocês me perguntam: você não erra nunca?
Sim, erro, erro muito, erro feio, e o pior dos meus erros é o de não conseguir aceitar um pedido de perdão.
Ao menos não no calor do momento.

O meu tempo é diferente. Tenho problemas de cicatrização. Mais graves ainda quando se trata das feridas na alma.

Passado um tempo, já não lembro mais do que aconteceu. Ou lembro, mas lembro de um jeito que já não fere mais. E aí fica dado o meu perdão.
Sem palavras.
E, principalmente, sem aceitar as desculpas alheias.

Orgulho bobo?
Talvez.
Nunca pedi desculpas a ninguém?
Sim, já "n" vezes.

E então?
Então que se fosse simples eu mesma já teria resolvido!
Mas não é simples, nem inodoro, nem incolor, nem insípido. Muito menos rápido e indolor.
Maybe, algumas agruras da vida, dos meus longos e bem vividos 23 anos, tenham me deixado assim.
Maybe, falte a mim grande discernimento e experiência pra entender das coisas que valem a pena na vida.
E das coisas às quais me arrependerei no futuro.

Quem é que sabe?
Eu não, e você?

Bom, por hora me resta aplacar as dores mundanas e físicas.
Vou cuidar do meu tornozelo que já está clamando por mais uma seção de gelo.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...