domingo, 21 de agosto de 2011

Não era amor. Era melhor.

Há muito tempo, quando eu tinha mais momentos pensantes e menos momentos executantes (porque agora a minha vida se espreme nos intervalos das reuniões, aulas do mestrado e horas de estudo), eu conseguia enxergar muito mais poesia no mundo.

Talvez porque eu não passava simplesmente os olhos, superficialmente, pelos fatos, pelos sons e pelas imagens. Certos momentos me capturavam e me iluminavam, e, de repente, eu tinha clareza do significado de uma música, de uma frase solta em um livro. Aliás, como já disse aqui algumas vezes, sinto muita falta de ler pelo simples prazer deste ato. Sinto falta dos meus livros rabiscados (eu, digamos, personalizo todos os meus livros. É por isso que eu preciso tê-los. É por isso que sinto ciúmes deles e não gosto de emprestá-los. Na maioria das vezes meus rabiscos nos livros revelam demais sobre mim, e eu não necessariamente quero abrir isso para o mundo. Enfim, minha relação com os livros já rendeu  muitos posts e renderá, certamente, muitos mais).

E por essas coisas de ficar lembrando, que veio novamente à tona uma das minhas frases preferidas do Divã, da Martha Medeiros. Nada demais, nada pretensiosa. Gosto dessa frase pelo jogo das palavras. A maneira como ela define a relação, a simplicidade, enfim. Eis a dita cuja:

"Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."


Confesso que foi além da lembrança do conteúdo dessa frase o que mexeu comigo. Foi muito mais a sensação de estar perdendo a minha sensibilidade para a poesia do mundo. Foi como uma saudade de alguém. E esse alguém sou eu. Minha percepção estava muito mais desenvolvida naquele primeiro ano no Rio. Pode ser que era por ficar muito mais tempo sozinha. Afinal, as horas de estudo eram tantas ou mais do que agora. Mas eu lembro com clareza daquela pessoa que refinava os pensamentos, que prestava atenção. Agora a vida passa e eu me sinto muito mais rasa. Aquela sensibilidade que outrora me dava subsídios pra escrever, agora se foi. Ou, para ser menos drástica, diria que ela está ali esperando que eu possa me abrir novamente, ou que eu simplesmente volte a prestar atenção. Talvez essa seja uma maneira inconsciente de me proteger. Desligando.

Por outro lado, pensando melhor, acho que o que eu deveria fazer era unir as duas coisas (olha eu tentando abraçar o mundo outra vez!). Porque, pensando bem, eu gosto bastante dessa "eu" que aprendeu a ligar o "foda-se". Gosto mesmo. Muito. Não vivo mais sem. Descobrir que o mundo continua a girar, mesmo quando eu paro de remar, foi libertador! Dizer que não posso ser as duas coisas ao mesmo tempo - ligada e desligada, ou, sensível e carrancuda - é ser igualmente rasa com a minha capacidade.

Enfim, chega de análise. Gosto de me descobrir diferente, ao mesmo tempo que não desapego da mocinha de alguns anos atrás. Infelizmente não conseguirei ir adiante só levando o melhor de mim.
Não se pode ter tudo.

Todo esse discurso, sobre a inegável dicotomia que muitas vezes nos sufoca e nos impele a decidir sobre ser uma coisa ou outra,  me fez lembrar muito de uma música. Da Marisa Monte.



Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

2 comentários:

Mariana F. Bordin disse...

A poesia está sempre dentro de ti. Às vezes apenas hibernando, como uma lagarta que se fecha no casulo. Mas quando ela acordar, romper o casulo dos teus pensamentos, ela vai sim estar muito mais refinada, mais madura e mais colorida. Quem tem poesia na alma nunca a perde!

Cissa disse...

Tomara, Má... tomara

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