terça-feira, 14 de agosto de 2012

Só que você foi embora cedo demais...

Há dias eu venho pensando em escrever aqui no blog, mas andava me faltando coragem. Eu sabia que no dia em que resolvesse escrever aqui seria impossível conter as lágrimas (e eu estava certa). Só que a vida tem dessas coisas (a minha tem várias dessas coisas) e de repente o corpo entra em pane e te obriga a parar. E te obriga a pensar em tudo. Te obriga a encarar. Então aqui estou eu.

Não faz nem duas semanas, está tudo ainda muito recente e doloroso ainda. Acredito que a maioria das pessoas que me conhecem sabem do que eu estou falando. Há poucos dias eu perdi um serzinho muito importante na minha vida, minha cã, a Carminha.

Foi trágico, foi repentino, foi desesperador, mas eu não quero falar aqui de como tudo aconteceu, até porque não é com essa imagem triste que eu vou lembrar do meu anjinho canino. Prefiro falar da nossa história e de tudo que eu senti e pude viver com ela nos poucos meses que ficamos juntas. E do que eu gostaria de "dizer" pra ela agora, porque, maluquice da minha cabeça, ou não, eu sinto ela aqui comigo ainda. Seria algo mais ou menos assim:


"Tudo começou aquele dia na Suipa, quando, no meio de um monte de cães saltadores, latidores, e pedindo desesperadamente "me adote", você apareceu de relance e se escondeu debaixo da bancada. Ali eu tive certeza: 'é ela!'. Você era a cãzinha mais tímida daquele canil, e seu olhar assustado só me deixava com mais vontade de te pegar no colo e te levar pra casa. Você já veio batizada, e, todo mundo abria um grande sorriso pro seu nome incomum 'Carminha'. Mas você tinha cara de Carminha e assim ficou.
Chegamos em casa, te dei um banho frio e você logo escolheu seu lugarzinho debaixo do sofá. Logo no primeiro dia sozinha você já fez sua primeira (e única) grande bagunça. Mas como ficar triste com você, tadinha, trancada numa cozinha o dia inteiro?
Foi aí que você mudou pra sacada e ficou muito mais tranquila e feliz, com sua nova casinha que foi seu porto seguro sempre.
E, olha Carminha, você era uma cãzinha difícil! Desconfiada... Foram 3 semanas até você confiar em mim, abanar seu rabão (que era quase maior que você!) e começar a me seguir pela casa. Mas depois disso, você virou minha "cãopanheirinha", ao ponto de, até hoje, eu sentir você se enroscando nas minhas pernas pela casa.
E o quanto você é querida por todo mundo? Não havia uma pessoa que não se encantasse com sua carinha de cão sem dono, aquele olharzinho de baixo com as orelhinhas pra trás. Todo mundo que conheceu e conviveu com você se apaixonou pelo seu temperamento assustado, que depois de um tempo virava denguinho.
Aliás, seu denguinho rende um capítulo a parte! Meu Deus, que cã mais dengosa, você era. Vinha toda rebolativa de manhã cedinho, ainda meio dormindo, e quando eu chegava pertinho, você já se virava pra eu acariciar sua barriguinha rosada. Depois eu ia pro banho, você me esperava deitada na porta do banheiro. E quando eu ia pro quarto (onde você, muito obediente, nunca entrava, só quando era convidada), você ficava ali rebolando e ganindo como quem diz 'Mamãe, você tá demoraaaando!'.
Mas a maior alegria de todas era chegar em casa, e fazer a nossa festinha canina! A gente rolava no chão, corria pelo apartamento, você subia em cima de mim e me lambia o rosto. Isso quando não me dava uma patada que fazia meu óculos voar! Esse era o nosso momento, só meu e seu.
Outra felicidade imensa era levar você pra passear no aterro. Você ficava toda serelepe e faceira, porque lá era o seu quintal. Ah, e quando você ganhou sua toquinha? Eu fiquei morrendo de ciúmes, porque achava que você amava mais sua toca que eu (e me desfazer da sua toquinha foi a parte mais difícil...).
Às vezes eu pensava no quanto você me achava besta por te colocar um sem número de apelidos, todos sem sentido: Bizunga, Bizulunga, Buzunguinha, Rabocóptero, Bizunguitos sabor canino (?), Dengulosa, e por aí vai...
Olha, meu anjinho canino, eu espero que você tenha tido uma vida feliz comigo. Espero ter te dado dignidade e tranqulidade. Porque quando eu te adotei, foi pensando em fazer um bem pra você. Mas o que eu não sabia é que estava fazendo um bem muito maior pra mim. Te ter na minha vida, ainda que por tão pouco tempo, foi uma lição e tanto.
Você dependia inteiramente de mim, e foi a primeira vez em que vivi uma relação assim. E eu sempre quis te dar o melhor de mim, ser uma mãezona, ainda que não te deixasse subir no sofá ou entrar no meu quarto. (Aliás, queria que você soubesse, ainda que seja tarde demais, que, enquanto você estava lá na clínica lutando pra viver, eu prometi que se você não fosse embora eu te deixaria subir no sofá. E entrar no meu quarto. E subir na minha cama. E dormir comigo. Por favor me perdoe, eu sei que eu devia ter feito tudo isso enquanto eu tive a chance)
Minha buzunga, me desculpe se não fui a melhor mãe-de-canino do mundo, se te deixei sozinha em casa enquanto eu trabalhava. Mas eu tenho a certeza de que te dei o maior amor do mundo, mas, muito mais do que isso, eu aprendi o que é o amor puro, aquele que não exige nada em troca. E esse foi você quem me deu.
Muito obrigada por tudo.
Vai em paz."


"É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais..."




Fomos felizes. Minha cã e eu.

2 comentários:

Unknown disse...

Você me fez chorar com a história da Carminha!
Bons momentos vocês tiveram.
Fico triste por ela ter ido =/
beijo.
Fica bem.

Cissa disse...

Brigada Cláudia, eu precisava me despedir dela, por isso resolvi escrever. É triste mas valeu a pena ter vivido essa história.
Beijos

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