terça-feira, 28 de setembro de 2010

Senta que lá vem história

Nos últimos dias eu ando num ritmo tão frenético de pensamentos que chego a me pegar com a respiração ofegante no meio do nada - como por exemplo sentada no metrô voltando do trabalho.

Eu tenho alguma noção dos fatores que andam mexendo comigo. Também enxergo que nesses momentos de confusão total é que eu PRECISO parar e escrever tudo o que me vem à cabeça, mesmo que só pareça um conjunto de ideias desconexas. (Talvez as aulas de produção textual que estou fazendo tenham também sua contribuição nisso). Eu sei que retomar uma das minhas atividades preferidas, que é ler (textos não técnicos), também me instiga e deixa minha cabeça borbulhante.

Com toda essa coisa de fazer mestrado, de sair da minha zona de conforto, tenho entrado em embates filosóficos comigo mesma das quais saio tão mentalmente exaurida que isso chega a passar para o exterior, com as pessoas me perguntando se "aconteceu alguma coisa". (Sem dúvida a morte inesperada da Kuki tem parcela nessa cara de "sim, aconteceu alguma coisa") Por isso do texto sobre o controle das coisas. Estou prestes a encarar algo completamente novo e desafiador, e, lá volto eu pro começo, repassando todos os começos que já superei, tentando ganhar confiança para mais este. Mas não tem jeito. Por mais que eu tenha experiências passadas, bem sucedidas até, a expectativa do novo causa medo, dá um frio na barriga e aquela sensação de "será que vou dar conta"?

E, desta vez, o novo está indo mais fundo, está cutucando a minha tão definida identidade. Sim, porque eu sou ENGENHEIRA. Me defino assim. É isso que eu sou, ou não foi isso que colaram em mim três anos atrás? E eu adoro todo este ambiente engenheirístico, tenho orgulho de tudo que o cerca, pois, de que o mercado precisa? Engenheiros! As pessoas admiram estes seres de intelecto superior, que conseguem domar toda aquela matemática pesada (e, no meu caso, a química, que gera tanto ou mais repulsa que a matemática) e fazer dela todas as coisas deste grande mundo que nos rodeia. Afinal, o que seria do mundo sem os engenheiros? Alguém conseguiria imaginar viver num mundo sem carros, sem luz, sem plástico, sem computador, sem n-a-d-a? Ah, querido leitor não-engenheiro, não desista deste texto agora. Eu sei que você está com uma tremenda raiva de mim, mas estou falando da mais pura realidade de como o engenheiro se enxerga. Não a Clarissa, mas a classe toda. E eis, que, do alto de toda esta seleção natural que me fez ser mais forte e vencer na vida como engenheira, o que eu vou fazer? Mudar para uma ciência social!
Juro que fiquei chocada quando me dei conta disso! Uma ciência social, quem diria? E não há nada no mundo de onde um engenheiro se sinta mais distante do que de uma ciência social, com todos os seus advogados e seus textos codificados e seus bichos grilos da sociologia.

E no meio de todo este choque cultural, esta crise de identidade, me deparei com - de novo ele - lindos trechos de Comer, Rezar, Amar (que tá com tudo pra virar meu manual de instruções da vida) que me diz: "menina, relaxa, para de tentar controlar o mundo" (como no post anterior) e, agora, "se aceite e pare de lutar com o que você é", que na minha tradução simultânea ficou algo parecido com "menina, você é sim uma engenheira, mas não é só isso! Pare de lutar! Dentro do seu ser cabe muito mais, então deixe as coisas acontecerem que, naturalmente, o seu eu vai acomodar tudo isso. Mas, acima de tudo, aceite."
Além disso, Liz (já estou íntima) fala no seu texto que ela é muito falante e inquieta, e que gostaria de ser conhecida como "A Moça Quietinha do Fundo do Templo". E depois ela descobre que não adianta querer mudar o cerne do seu ser. E isso acontece exatamente assim comigo. Todo dia volto pra casa com uma sensação de ter falado demais, e penso que amanhã tentarei falar menos. E nunca consigo!

Bom dito tudo isso, se deliciem com mais este pedacinho (precisa dizer que eu superrecomendo esta leitura completa?) de Comer, Rezar, Amar:

"A realidade é que é um pouco triste para mim reconhecer que nunca serei essa pessoa. Sempre fui tão fascinada por essas almas etéreas, delicadas. Sempre quis ser a moça silenciosa. Provavelmente, justamente porque não sou. É o mesmo motivo que me leva a achar tão bonitos cabelos grossos, escuros - justamente porque não os tenho, porque não posso tê-los. Em algum momento, porém, é preciso se contentar com aquilo que se recebeu e, se Deus quisesse que eu fosse uma moça tímida de cabelos grossos e escuros, Ele teria me criado assim, mas não criou. Talvez, então, seja útil aceitar como fui criada e assumir plenamente a mim mesma desse jeito."

Tem como não amar?

2 comentários:

Joanna Renner disse...

Cissa, sabe que não consegui ler este livro? Só li a parte da Itália... achei ela down demais e fiquei esperando o filme (que espero ver logo) para ver se eu prossigo na leitura.
E quanto a definir o que você é, estou neste mesmo embate, já que toda vez que me perguntam "profissão?" eu respondo "arquiteta", e aí a pessoa quer me falar sobre projeto de reforma ou sei lá o que e eu fico pensando o que eu deveria responder se arquiteta é só o que diz lá no meu diploma, mas tudo bem, faz (ou fez) parte de mim.

E engenheira é pouco pra descrever a Cissa inteira, não é não? besos

Mariana F. Bordin disse...

Se eu tivesse esse intelecto matemático, eu certamente faria Engenharia Civil! =]

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