segunda-feira, 23 de março de 2009

Noite de Horror - A guerra bate à porta

Bom meus amigos, eu estou cheia de coisas boas pra contar hoje, e contarei, em outro post.
Mas eu não posso negligenciar a experiência terrível que tive esta noite.

Pois bem, não bastassem o tiroteio na noite de sábado e durante o domingo - descritos no post anterior, a coisa piorou (e muito) de lá para cá.

Durante a tarde de domingo a coisa até tinha acalmado - só se escutavam uns tiros esparsos aqui e ali (como se isso já fosse a coisa mais normal do mundo).
Aí eu até achei que daria pra dormir numa boa...

Ledo engano. Tudo bem que eu estava com o sono leve pelo fato de estar ansiosa com a apresentação da monografia e a última prova do Cenpro. Mas, mesmo assim, eu achei que daria pra dormir.

Só que lá por 1:45 da manhã eis que a guerra recomeçou - debaixo de chuva forte - e com força total. Eu acordei de susto, e parecia que estava chovendo tiros, e não água. No primeiro momento fiquei imóvel - somente me enrolei no lençol e fui para um cantinho da cama, agarrada num travesseiro.
Só que aí a intensidade e densidade de tiros, por mais que parecesse improvável, ficou ainda maior. Eu estava só vendo a hora em que minha janela seria estilhaçada. Eu tinha consciência de que é muito improvável um tiro chegar aqui. Só que nestas horas a razão não tem muita vez...

Pois então achei que estava muito perigoso ficar na cama (minha cabeceira é bem no janelão do meu quarto) e me mudei com lençóis e travesseiros para o chão. Fiquei ali alguns minutos, tremendo feito vara verde, com o celular na mão, sem saber o que fazer.

Liguei pro Zeca. Pobre Zeca, depois de viajar o domingo inteiro ainda teve que me aguentar no meio da madrugada... Enfim, conversamos durante uns vinte minutos.

E eu chorei, chorei muito.
Praguejei estar aqui sozinha.
Foi a solidão mais intensa que eu já senti em toda minha vida.
Eu não tinha ninguém a quem recorrer naquele momento. Ninguém poderia fazer nada por mim naquele momento. Só me restava esperar.

E como ele não poderia ficar comigo no telefone a noite toda, desligamos. E eu mergulhei novamente na escuridão. Fiquei ali, imóvel, coração disparado, tremendo e suando muito.
Continuei chorando.

De medo de morrer.

Não de morrer aqui dentro do meu quarto.
Mas eu só pensava que tinha que trabalhar, que apresentar a monografia, que fazer minha última prova, e teria que sair de casa em algum momento. E se uma bala perdida me atingisse?

Com meus nervos em frangalhos, agradeci a Deus por não ter família aqui. Pensei que se fosse pra acontecer alguma coisa, que fosse só comigo. Porque se mais alguém morasse aqui, aí sim é que seria difícil ter sossego.

Também pensei na ironia do destino de colocar isso no meio do meu caminho agora, faltando duas semanas para a definição das vagas.

Reconsiderei deixar o Rio.

Pensei que talvez em outro lugar as coisas seriam mais fáceis. Sim, porque Porto, por exemplo tem violência, mas eu nunca, nunca passei por momentos de pânico e terror como passei nessa noite. Lá ainda não chegou no estágio de milícia e guerra civil que está aqui...

Meus sentidos estavam todos muito aguçados. Eu poderia ouvir um grão de pó tocando o chão. E assim prosseguiu até a hora de ir trabalhar. Os tiros não cessaram. Cabeça a mil, pensando em tudo ao mesmo tempo. A cada novo tiro eu pulava de susto. Nesta altura do campeonato eu já tinha perdido as esperanças de que conseguiria sequer cochilar.

Assim, eu dormi meia hora no total, de uma da manhã é uma e meia mais ou menos, e tinha na minha frente o desafio de enfrentar momentos decisivos da minha vida profissional.

Quando o sol nasceu, apesar dos tiros continuarem, eu consegui finalmente me acalmar, parar de chorar e passei a tremer um pouco menos. Aliás, eu continuei tremendo até depois do meio dia. Não sei se pela privação de sono ou por resquícios de medo.

Enfim, eu sei que estas palavras aqui não conseguirão descrever o que foi pra mim passar essas longas horas sob a avalanche de tiros.
Nos muitos momentos em que me peguei pensando, tentei enumerar se alguma vez tive medo de morrer.
Sim, eu tive. Antes de me submeter a uma cirurgia em 2003 eu tive medo de morrer. Meu medo maior era da anestesia geral.
Mas lá eu estava sob condições controladas, só uma grande cagada me tiraria a vida.

Aqui, meu medo é muito maior e irracional. Porque eu estou lutando contra não sei o que.
Contra gente que não dá o menor valor para vida.
Gente que já perdeu a conta de quantas vitimas já fez.
Gente sem a menor perspectiva, cujo objetivo de vida é conquistar mais um ponto de venda de drogas.

Aí vocês podem me dizer, o que é pior: estar nas mãos de um médico ou de um traficante?
Acho que nem preciso comentar, não é??

Eu só sei que sigo chocada, e que o clima por aqui está muitíssimo pesado.
Fui e voltei do trabalho de táxi. (Detalhe que de manhã eu liguei pras cooperativas de táxi e nenhuma queria mandar táxi pra cá)

O policiamento é intenso, e a cada 5 minutos se escuta uma variedade de sirenes, entre ambulâncias e policiais.

Vou tentar levar a vida...
Vou no pilates daqui a pouco, depois, se me deixarem pretendo dormir.
Sei que será difícil, mesmo se os tiros calarem.
Mesmo agora eu fecho os olhos e a cada pequeno ruído já sinto um sobressalto...

Talvez leve um tempo pra eu voltar ao normal...
Talvez só mesmo quando for embora daqui.

Estou com a sensação de estar num mundo surreal, parece um jogo ou algo assim...

Torçam por mim... Vou atualizando conforme as coisas forem acontecendo.

Um comentário:

Mariana F. Bordin disse...

Que pânico!!!
Onde vc está morando aí no Rio?

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